Por Hora do Povo / Publicado em 24 de março de 2019
Deputado
do PDT, Subtenente Gonzaga (MG). (Foto: Divulgação)
“Esse
texto é ruim para nós, precisamos rejeitá-lo, precisamos reagir”
O deputado
Subtenente Gonzaga (PDT-MG) condenou o projeto do governo para a previdência
dos militares, considerando que traz “perdas significativas para os militares
estaduais”.
“Eu
considero que nós fomos traídos”, afirmou o parlamentar. “A minha convicção é
de que nós caímos numa arapuca, com a narrativa de que os militares tinham que
ir para o sacrifício, e com a narrativa de que o que se aplicava aos militares
federais se aplicava para os militares estaduais. A leitura que eu faço do
texto é que essa premissa está sendo negada, esta premissa não está no texto da
PEC e muito menos no projeto de lei dos militares das Forças Armadas”,
enfatizou Gonzaga.
A primeira
crítica do deputado ao projeto de lei de reforma da Previdência das Forças
Armadas é dirigida à proposta de reduzir o efetivo dos policiais militares dos
estados. “Os militares estaduais não têm e nem nós queremos militares
temporários. Nas Forças Armadas há historicamente a figura do militar
temporário. O texto do projeto de lei está propondo reduzir o tamanho do
efetivo permanente e aumentar o temporário”.
“Nós
policiais militares precisamos é de aumentar o efetivo. As FFAA estão
aquarteladas e podem trabalhar com uma força temporária porque sua missão
principal é proteger o território, proteger a soberania e numa expectativa de
uma guerra que todos nós trabalhamos para não acontecer. Mas na Polícia
Militar, no Corpo de Bombeiros, a guerra é diária e todas as polícias militares
já estão com defasagem de efetivo. E é inaceitável nós pensarmos em militares
temporários, em policiais temporários, para fazer segurança pública”, explicou
o parlamentar em vídeo nas redes sociais.
O deputado
é membro da Bancada da Segurança na Câmara dos Deputados. No dia 12, ele
reuniu, através do Gabinete Integrado dos Profissionais de Segurança Pública e
Ministério Público, no auditório Nereu Ramos da Câmara, entidades de militares
e procuradores no “1º Simpósio Reforma da Previdência – A Reforma que
Defendemos” para “pressionar o governo contra a proposta”.
O projeto
de previdência e reestruturação da carreira militar causou estranheza até mesmo
entre os parlamentares governistas. O deputado Delegado Waldir, líder do PSL,
partido de Bolsonaro, registrou sua decepção em post no Facebook. “Penso que (a
reestruturação da carreira dos militares) vem num momento difícil. No meu
entendimento, era um diálogo que não era o momento para se discutir. O momento
agora é de sacrifício… Outras carreiras poderão pedir essa mesma
reestruturação!”, disse.
O segundo
ponto de crítica do deputado Subtenente Gonzaga mira a divisão entre ativos e
inativos entre os policiais militares o que não acontece o mesmo com os
militares das FFAA. “Nós temos uma máxima que nós usamos em Minas Gerais:
militar é uma classe indivisível. Somos militares da ativa, da reserva,
reformados e pensionistas. Não podemos ser divididos entre ativos e inativos.
Para os militares federais o texto mantém a condição de unidade, a classe
unida, una. Os militares continuarão a serem tratados na mesma legislação, como
militares da ativa, da reserva, reformados e pensionistas”, observa.
O deputado
explica para uma plateia de militares os danos da reforma para a categoria no I
Debate sobre a Previdência dos Militares, promovido pela Associação dos
Oficiais Policiais e Bombeiros Militares (AOPMBM), no Clube dos Oficiais, em
Belo Horizonte. (Foto: Divulgação)
“Para os
militares estaduais a PEC está impondo uma divisão entre ativos e inativos nos
estados. Ou seja, não faz para os federais, mas faz para os estaduais. Nós não
admitimos isso”.
“O texto
da PEC diz que a condição de inatividade e da pensão será definida por lei
federal. Ora, o que prevê a Constituição hoje? No parágrafo 20 do artigo 40
está expresso que é permitido mais de um regime, que nós [militares estaduais]
temos direito a um regime próprio de previdência nos termos do parágrafo
terceiro, inciso 10 do artigo 142. E lá trata de todas as nossas condições: da
reserva, da reforma, da ativa. O artigo 42 da Constituição atual diz que lei
específica do Estado vai definir aquilo que lei federal específica define para
os militares federais. O que a PEC 6 está dizendo? Está dizendo que vai ser lei
federal. Então o que se mantém para os militares federais se destrói para os
estaduais”, esclareceu.
“Por esses
conceitos, por essa percepção, eu considero que fomos traídos pela narrativa
oficial do senhor ministro Paulo Guedes, dos generais, e da imprensa. A
imprensa eu não posso nem falar que fomos traídos porque ela está reproduzindo
a narrativa. Mas o discurso da similaridade das FFAA com os militares
estaduais, na minha compreensão não está garantido e nem muito menos previsto
no texto da PEC”, adverte Gonzaga.
O deputado
continuou frisando o tratamento desigual entre os militares estaduais e os
militares das Forças Armadas na PEC. “O texto da PEC está dizendo que até que
lei federal defina as regras dos militares estaduais será aplicada a lei
federal. Ora, a maioria dos estados, no seu regime de previdência, em lei
específica estadual, tem um modelo contributivo em que o militar contribui,
alguns estados contribuem com 11%, outros contribuem com até 14% e que há uma
parte patronal. O estado contribui com uma parcela fixa todo mês. Para formar
um fundo. No modelo das FFAA não há contribuição patronal. Portanto não há
formação de um fundo”.
Para o
Subtenente Gonzaga, é um retrocesso mudar o regime dos militares estaduais como
prevê a PEC 6 e é inadmissível que alguns governadores queiram mudar o sistema
atual em troca de um suposto “alívio” para seus estados. “Eu não acredito que a
proposta defendida pelos governadores que estão pressionando o Congresso a
aprovar [a reforma] seja no sentido de voltar atrás naquilo que os estados já
fizeram para os militares estaduais. Seria muita inocência nossa [dos
militares], muita inocência política nossa acreditar que os governadores, por
uma lei federal, viessem revogar os critérios atuais de aposentadoria e pensão
para beneficiar os militares. Ninguém aqui é inocente, infantil”, reagiu o
deputado.
O
parlamentar considera que os governadores, pelo menos do sul e sudeste, estão
dispostos a pedir voto na PEC do governo na ilusão de que seus estados venham a
ser beneficiados com a mudança da lei. Os governadores do Nordeste já se
posicionaram contrários à reforma da Previdência.
“Sábado
passado (dia 16) teve uma reunião dos governadores do sul e sudeste. E a
bancada dos deputados de Minas Gerais já foi chamada pelo [Romeu] Zema (Novo)
[governador de Minas] para pedir que aprovem a reforma aqui no congresso. Se os
governadores querem isso [a reformada Previdência] é obvio que não é para
beneficiar, é para prejudicar” os militares, diz Gonzaga.
“Eu tenho
a convicção que esse texto é ruim para nós, que precisamos rejeitar, precisamos
reagir porque a nossa realidade no dia a dia, na nossa carreira, na nossa
estrutura da nossa organização é diferente das FFAA”, disse.
“Portanto,
precisamos rejeitar essa proposta [da Previdência], rejeitar com manifestação,
rejeitar com manifestação ao presidente, rejeitar com manifestação aos
deputados, que a gente possa organizar em torno de nossos deputados federais
nos seus estados, cada um nos seus estados, para rejeitar essa proposta. E para
dizer o seguinte: Se aos militares federais é reconhecida a condição e a
importância que têm na preservação, na defesa da soberania, aos militares
estaduais muito mais, pelo risco de vida diário, pela sua responsabilidade na
governabilidade da segurança pública”, volta a destacar o deputado Subtenente
Gonzaga.
O
parlamentar mineiro fez uma convocação para resistir à proposta do governo e
aos governos estaduais que querem mudar o regime dos policiais militares dos
Estados. Ele chama à mobilização os mineiros contra o governo Zema. “Porque ele
está organizando a aprovação disso. Ele tá organizando para sangrar
politicamente os militares estaduais e sair com a mão limpa. Ele não vai sair
com a mão limpa, ele vai sair com a mão suja se insistir nessa agenda com a
justificativa que tem que salvar o estado. Para salvar o estado tem salvar as
pessoas, salvar os servidores, tem que salvar os militares”.
Luiz
Gonzaga Ribeiro, ou Deputado Subtenente Gonzaga, tem 57 anos, foi diretor da
Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra)
por 20 anos e 4 vezes presidente. Foi fundador da Associação Nacional dos
Praças (Anaspra) em 1997.
Fonte: Hora do Povo
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