Por Adriana Cruz, (Jornal o
Dia Online - 10/02/17)
Rio - Operações recheadas de
irregularidades para captar recursos nos bancos do Brasil e Caixa Econômica
Federal, além do mercado financeiro dos Estados Unidos, deixaram o saldo de R$
18,3 bilhões de dívida para o Fundo Único de Previdência Social do Estado do
Rio de Janeiro (Rioprevidência). O pagamento, previsto para até 2020, tem como
garantia royalties do petróleo, maior fonte de renda da autarquia para garantir
a folha de 236 mil aposentados e pensionistas.
Se hoje os beneficiários
sofrem com os atrasos salariais, o relatório do Tribunal de Contas do Estado
(TCE) alerta sobre a bancarrota no futuro do fundo. A quebradeira foi
identificada por uma auditoria nas contas de 2015 do governo. São apontados
como responsáveis o ex-governador Sérgio Cabral; o governador Luiz Fernando
Pezão; o ex-diretor-presidente e atual secretário estadual de Fazenda, Gustavo
Barbosa, e Reges Moisés dos Santos, hoje à frente do fundo. Ontem, a Corte
decidiu que eles têm que dar explicações no prazo de 30 dias.
Citados, Cabral e Pezão, têm que explicar problema no Rioprevidência
Segundo o tribunal, o Rioprevidência abriu empresas, contratou consultorias e pagou, sem dar explicações, R$ 16 milhões a um escritório de advocacia. Outra frente de sangria aos cofres do Rioprevidência são as cláusulas contratuais, como a imposição de caixa de reserva de R$ 2,50 para cada um devido nos Estados Unidos. A falta de cumprimento dos acordos gerou o pagamento de recursos excedentes aos investidores no montante de R$ 912 milhões. Segundo a Corte, foram localizadas despesas com as transações de R$ 173,8 milhões referentes às comissões, mas não foram identificados nos documentos destinatários.
Para os auditores os estragos
nos cofres do Rioprevidência começaram porque o governo não repassou ao fundo
R$ 14 bilhões em função de falta de repasse dos créditos da dívida ativa;
créditos tributários e até de saque de R$ 450 milhões em troca de um terreno do
Batalhão da PM do Leblon.
Para retirar o fundo do
buraco, Graciosa, no seu voto, sugere ao estado cobrar seus devedores, revisão
dos benefícios fiscais e proibição de que empresas inscritas na dívida ativa
sejam contempladas com isenções. O relatório foi encaminhado à Alerj, à
Procuradoria-Geral da República, ao Ministério Público do estado, aos
ministérios da Fazenda e Previdência Social e à Comissão de Valores Mobiliários
(CVM).Secretário alega que operação no exterior garantiu R$ 5,15 bi
O secretário de Fazenda, Gustavo Barbosa, foi o escolhido pelo governo para abrir fogo contra o relatório do TCE. Em nota, ele defendeu a captação dos recursos, aprovados pelo Conselho de Administração do Rioprevidência formado por servidores, representantes do TCE, Ministério Público, Tribunal de Justiça, Defensoria Pública e Alerj e órgãos do Executivo.
Alegou que a operação no
mercado de capitais em Delaware, nos Estados Unidos, permitiu a entrada de R$
5,15 bilhões no caixa do Rioprevidência, em 2014. Os valores foram usados para
pagar aposentadorias e pensões naquele ano. Explicou que para estabelecer a
estrutura é necessário seguir regras rigorosas determinadas nos EUA, com
pareceres de escritórios de advocacia nacionais e internacionais, da
Procuradoria Geral do Estado, além de auditoria externa.
Negou a existência de
cláusulas para os americanos terem prioridade no recebimento da dívida, que tem
garantia dos royalties, em relação ao Governo Federal. Quanto à contratação dos
escritórios de advocacia, das agências, dos agentes e outras instituições foram
feitas através do Banco do Brasil, responsável por estruturar as operações.
As entradas de recursos
ocorreram no ano de 2014 e serão pagos ao longo de 10 anos para a primeira
operação e de 12 anos para a segunda operação. Em termos de taxa de juros, é
favorável se comparada com operações no Brasil. O déficit atuarial (diferença
negativa entre os ativos e passivos) superior a R$ 180 bilhões e um déficit
financeiro para 2017 de R$ 12 bilhões.
Segundo o secretário O Fundo
Rioprevidência não possui solidez desde a sua constituição, em 1999. O que
havia era receita suficiente para o pagamento das aposentadorias e pensões em
função de operação aportes do Tesouro Nacional e recebeu em troca um fluxo de
royalties até 2021.
Ele diz que os recursos foram
esgotados por causa do aumento das despesas previdenciárias, a partir de 2013.
E, por isso, as operações financeiras para o equacionar o caixa.
Documentos em inglês
assinados pelo governador
Documentos em inglês
assinados pelo governador Luiz Fernando Pezão para as operações financeiras no
exterior chamaram a atenção dos auditores do TCE. No relatório do conselheiro
José Gomes Graciosa consta que esse tipo de procedimento é proibido por lei. Ou
seja, tem que ser traduzido para o português para produzir efeitos no estado.
O tribunal também quer que o
governador explique como permitiu o pagamento excedente de R$ 912 milhões com
as quebras de cláusulas contratuais. Entre elas está o chamado índice de
cobertura, que protege o investidor no caso de queda expressiva no valor dos
royalties. Não bastava, por exemplo, o pagamento da parcela. Era necessário que
o Rioprevidência mantivesse no caixa R$ 2,50 para cada R$ 1 devido. Se não
atingisse a meta, o gestor ficava impedido de fazer novas negociações no
mercado americano.
Em outubro do ano passado, o
governo aceitou as condições e assinou um acordo com os investidores. O
relatório sustenta que, desde 2002, o TCE alerta para a precariedade do
Rioprevidência. Em 2013, os auditores alertaram, por exemplo, sobre os
problemas de fluxo de caixa e da finitude dos recursos provenientes dos
royalties do petróleo. A auditoria na autarquia foi aprovada pelo plenário da
Corte em 2015, que resultou no atual relatório.
Enquanto, o tribunal e
governo passaram a ficar de lados opostos, os servidores, aposentados e
pensionistas sofrem com a crise que assolou os cofres do estado. Enfrentam
atrasos salariais e há manifestações contra as votações de pacotes anticrise na
Alerj. Os beneficiários cada vez mais ficam preocupados com o futuro de seus
pagamentos diante da grave crise que o estado enfrenta, atolado em denúncias de
corrupção e problemas de gestão.Fonte: Jornal O Dia Online
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