sexta-feira, 31 de março de 2017

Cinco idéias de esquerda que jamais fizeram o menor sentido (1ª idéia) por Rodrigo da Silva


Você provavelmente já ouviu todas essas frases pelo menos alguma vez na vida. Ou melhor, talvez mais do que isso: há uma boa chance de você mesmo ter dito e continuado acreditando em todas elas.
É perfeitamente normal. Ao longo de décadas não nos cansamos de repetir uma série de bordões presos ao senso comum que não sobrevivem ao menor escrutínio da realidade – da ideia que comer leite com manga faz mal à saúde até a que diz que o banho não é indicado depois do almoço. Ninguém está imune a isso. E isso independe das motivações ideológicas.

Aqui, no entanto, separei cinco desses bordões ligados a uma mentalidade antieconômica, presos a um senso comum que, longe de qualquer inocência, pauta parte considerável das nossas políticas públicas.
Por acreditar nessas ideias, repetidas incansavelmente ao longo dos anos, elegemos figuras políticas que modificam o mundo real à nossa volta. Mais do que isso: somos, em parte, responsáveis por escolhas que alienam e criam dificuldade à vida das pessoas – especialmente as mais pobres. Nada disso acontece por acaso.

E a primeira delas é a mais clássica possível:

1. “Para haver um rico é preciso haver um pobre.”

Cá entre nós – eu poderia apostar que você, pelo menos em algum momento da sua vida, chegou a acreditar nessa ideia. Para haver um rico é preciso haver um pobre. Ou então: os países só são ricos porque se desenvolveram explorando os países pobres. Ou ainda: a pobreza só existe porque dá lucro.

Há muitos desses clichês decorando muros com pichações condenando os ricos pelas mazelas dos mais pobres. E se engana quem pensa que essa ideia nasceu com o capitalismo. Desde muito antes dos seus ancestrais moverem suas botas em solo tupiniquim, as trocas comerciais sempre foram encaradas como se fossem moralmente possíveis apenas entre bens com igualdade de valor (leia-se: um camponês que troca uma dúzia de ovos por um litro de leite).
Acontece que o valor dos bens não é objetivo, mas subjetivo. Quer dizer, não é como se os bens estivessem disponíveis embalados na natureza e nós apenas tivéssemos o trabalho de subir em árvores para adquiri-los – e os ricos, impávidos em sua sede de dominar o mundo, tivessem colhido tudo antes do tempo, não permitindo que os mais pobres tivessem acesso a eles.

A imensa maioria dos produtos que estão nesse exato momento ao seu alcance, embora utilizem materiais disponíveis na natureza, só existem graças ao fato incontestável de que esses materiais em estado natural foram transformados por meio do trabalho e do investimento. É a ação do homem que faz a mágica aqui. As árvores foram cortadas, as terras foram aradas, os alimentos foram colhidos, os alumínios foram extraídos. O resultado disso tudo lota a gôndola dos supermercados e das lojas dos shoppings centers. E cada um de nós dá um diferente valor a todos esses produtos na hora de realizar as nossas trocas.
A crença de que para haver um rico é preciso haver um pobre nasce justamente da concepção equivocada de que o ganho de um jogador numa troca representa necessariamente a perda para o outro jogador. É como se houvesse uma quantidade finita de um determinado produto a ser dividido e disputado entre os jogadores. Toda vez que você adquire um celular, por exemplo, não permite com que outra pessoa no mundo tenha acesso a ele. Na teoria dos jogos o nome que se dá a isso é jogo de soma zero.

Acontece que a economia não é uma espécie de bolo, com tamanho fixo. Riqueza é algo que precisa ser produzida, criada. E não sem razão, é isso que fazemos há pelo menos dois séculos. Duvida? Encare o gráfico abaixo.
Aqui em cima está toda riqueza criada no mundo nos últimos séculos. Se você acompanhar cada traçado nesse gráfico, perceberá que todas as regiões do mundo estão hoje mais ricas do que estavam no século dezenove. Mesmo a África (e atualmente, sete das dez economias que mais crescem no mundo estão no continente africano). 
A pergunta que não quer calar aqui é: quem exploramos, afinal, para criarmos toda essa riqueza? Os marcianos? Os homens do passado? Nossos escravos imaginários? Quais foram os pobres explorados para que toda humanidade pudesse enriquecer?

De fato, tal bordão não parece fazer o menor sentido: as trocas só existem, pelo contrário, por serem lucrativas para ambas as partes – ou alguém força você a sair da sua casa para realizar compras que você não tem o menor interesse? A participação nesse grande mercado de trocas é absolutamente voluntária; tanto o comprador como o vendedor são capazes de vetar qualquer negócio a qualquer momento e só permanecerão interessados no jogo quando perceberem que essa é uma escolha lucrativa para ambos.
E é por isso que o mercado de trocas é um jogo de saldo positivo e expansivo. E é por isso que não faz o menor sentido afirmar que para haver um rico é preciso haver um pobre.

Acredite, o único lugar do mundo em que a pobreza dá lucro é na política.
Fonte: Jornal Online Spotniks

Publicaremos nas próximas sextas-feiras as outras idéias. Fiquem ligados e acompanhem para que possam se informar mais sobre o assunto.

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